segunda-feira, 30 de maio de 2016

The Snake Pit - A Cova da Serpente, 1948

The Snake Pit - A Cova da Serpente, 1948


Olá, leitores!

Como prometido, estou escrevendo sobre os filmes da maravilhosa Olivia de Havilland, como uma forma de homenagem pelo centenário dessa grande atriz, em primeiro de julho desse ano. E, como eu havia dito antes, não irei falar dos filmes em forma cronológica, mas sim sobre os melhores, os que mais me chamam a atenção e etc.

E hoje, finalmente vou falar sobre o meu preferido: A Cova da Serpente.

Este é, sem dúvidas, um dos melhores filmes de Olivia, não só por sua atuação soberba, mas também pelo tema central do filme: problemas mentais e as más condições dos hospitais psiquiátricos públicos.

Sinopse:

Virginia Stuart Cunningham (Olivia de Havilland) é uma jovem escritora, que dias após seu casamento, é diagnosticada com depressão nervosa, e acaba sendo internada num hospital psiquiátrico por seu marido, Robert (Mark Stevens)

Lá, Virginia é submetida a diversos tratamentos, como terapia de eletrochoque, também tendo que ficar horas e horas em uma banheira com água fervendo.
Há falta de recursos no hospital. Faltam leitos, equipamentos, alimentos... Um verdadeiro descaso com a saúde pública, sem contar as vezes em que as internas são submetidas aos maus tratos por parte da equipe de enfermagem, como é o caso de Virginia com a enfermeira Davis, que nutre uma antipatia gratuita pela nossa protagonista.

Porém, com a ajuda do Doutor Kik (Leo Genn), que lhe dedica toda a atenção, submetendo-a também a sessões de hipnoterapia e psicanálise, Virginia vai melhorado gradativamente. Durante o tratamento, o passado de  Virginia vai se revelando em flash backs, que nos levam a suposta causa de sua doença. E ela, aos poucos, mesmo tendo que ser constantemente transferida de ala, por ''não conseguir se adaptar às regras'', vai se recuperando, indo até para o pavilhão 1, onde os pacientes ficam, antes de retornarem aos seus lares. Porém, mesmo estando aparentemente melhor, Virginia acaba sendo levada para o pavilhão 33, mais conhecido como ''a cova da serpente'', onde se encontram os casos mais graves e sem esperança de cura.
 E é no pavilhão 33 que Virginia sofre uma grande recaída. O pavilhão 33 é tudo o que se possa imaginar de pior: pacientes desenganadas a cantar e a dançar, más condições de higiene e maus tratos piores por parte da equipe de enfermagem.

Mas o doutor Kik não desiste de Virginia, que se recupera com êxito. Porém, ela se torna testemunha dos maus tratos e das más condições às quais são impostas os doentes mentais.

Sobre o filme
Olivia de Havilland nos dá uma de suas melhores performances, ficando atrás apenas de sua performance em ''Tarde Demais''. A forma estupenda como ela interpreta a personagem, nos faz sentir como se fosse conosco, como se nós estivéssemos passando por aquele problema, como se tivéssemos no hospital e vivenciando todo aquele enorme caos.

O diretor do filme, Anatole Litvak, exigiu que todos os membros da equipe, inclusive o elenco, se dedicassem ao máximo, que fizessem pesquisas em hospitais psiquiátricos, para que tudo ficasse perfeito. Olivia de Havilland se dedicou tanto às pesquisas, que visitava constantemente alguns hospitais públicos, tendo também conversado com pacientes - Olivia já disse, em entrevistas, que sua personagem foi inspirada em uma moça real, que ela conheceu durante suas visitas aos hospitais psiquiátricos - e, quando permitida, promoveu bailes nos hospitais e se submeteu a sessões de psicanálise. A intensidade como Olivia prestava a atenção a todos os procedimentos clínicos e a seriedade de suas pesquisas, impressionaram a todos. Ela também participou de eventos sociais em hospitais psiquiátricos.

A colunista Florabel Muir, após o lançamento do filme, questionou se realmente os hospitais psiquiátricos permitiam danças e contato com os internos mais violentos, como mostra uma certa cena do filme, em que é promovido um baile no hospital. Para a surpresa de Florabel, Olivia, por telefone, a assegurou de que a iniciativa de promover bailes foi ela mesma quem tomou.

Inspirado no livro de Mary Jane Ward, que causou controvérsia na época de seu lançamento, o filme tem como proposta mostrar às autoridade às más condições as quais os internos dos hospitais psiquiátricos públicos são submetidos.

O filme, tal como o livro, causou um grande impacto, sendo muito elogiado pela crítica e conquistando uma das maiores bilheterias de 1948, mais precisamente na sexta posição, empatando com Belinda.

O impacto do filme foi tanto, que em 1949, Herb Stein escreveu: '' O Wisconsin é o sétimo estado do país a instituir reformas em seus hospitais mentais em consequência do filme''. Mais tarde, todos os estados procuraram instituir reformas em seus hospitais psiquiátricos apenas por influência do filme.

Anatole Litvak dirigiu brilhantemente este longa, sendo indicado a vários prêmios, assim como o filme. Olivia de Havilland, por sua vez, arrancou elogios da crítica, tendo sido apontada como a melhor performance do ano, rendendo sua quarta indicação ao Oscar, mas não levou o prêmio. Entretanto, Olivia arrecadou praticamente todos os prêmios do ano.

Em 1950, a Warner Bros adquiriu os direitos de ''Um Bonde Chamado Desejo'', e Olivia foi convidada para viver a esquizofrênica Blanche DuBois, mas recusou, alegando que não poderia aceitar o papel por ter sido mãe recentemente.

O papel ficou com Vivien Leigh, com quem Olivia havia trabalhado antes em ''E O Vento Levou''. Por este filme, Vivien recebeu seu segundo Oscar de Melhor Atriz e a aclamação da crítica.

A Cova da Serpente é um dos grande clássicos da década de 1940, tornando-se atemporal e até hoje sendo requisitado como um dos melhores filmes sobre doenças mentais, influenciando muitos outros a falar sobre o tema.



Prêmios e Indicações

O filme recebeu vários prêmios e também indicações, incluindo:

Oscar
- Indicado para 6 Oscars, venceu na categoria de melhor mixagem de som (Thomas T. Moulton).

Indicações:

- melhor filme;

- melhor atriz (Olivia de Havilland);

- melhor direção (Anatole Litvak);

- melhor roteiro adaptado (Frank Partos, Millen Brand);

- melhor trilha sonora (Alfred Newman).

Festival de Veneza
- Ganhou o prêmio Volpi Cup de Melhor Atriz (Olivia de Havilland).

- O filme ganhou também um prêmio especial no Festival de Veneza em 1949. Como foi dito, para "a história audaz dos casos clínicos mostrados".

- O diretor Anatole Litvak foi indicado ao prêmio Leão de Prata.

Sindicato dos Jornalistas Italianos
- Prêmio de Melhor Atriz Estrangeira (Olivia de Havilland).

Curiosidades:

Gene Tierney foi escolhida para o papel de Virgínia Stuart Cunningham, mas ficou grávida e foi substituída por Olivia de Havilland.

The Snake Pit foi, mais precisamente, o terceiro filme a abordar sobre a vida de uma pessoa que sofre de doença mental. O primeiro foi Quando Fala o Coração, de Alfred Hitchcock, e o segundo, Amar Foi Minha Ruína, ambos os filmes de 1945.

A personagem de Virginia, assim como a personagem Jody Norris do filme ''Só Resta uma Lágrima'', foi oferecida à Ginger Rogers, que recusou. Os papeis ficaram com Olivia de Havilland, que ganhou seu primeiro Oscar de Melhor Atriz por ''Só Resta uma Lágrima'' e foi indicada novamente ao prêmio por ''A Cova da Serpente''.
Em entrevista, Ginger declarou: '' Parece que Olivia sabe quando é algo bom. Talvez ela devesse me agradecer por eu ter tão pouco discernimento''. 

O personagem do gentil psiquiatra "Mark Kick" foi inspirado no verídico Dr. Gerard Chrzanowski, que pedia a seus pacientes para chamar-lhe simplesmente de "Dr. Kick". Dr. Chrzanowski morreu em novembro de 2000, aos 87 anos.

Em seu livro (que inspirou este filme), Mary Jane Ward conta o que lhe aconteceu na época em que ela teve de ser internada num hospital psiquiátrico. O livro causou muita controvérsia quando foi lançado em 1946, sendo considerado por alguns como uma acusação mordaz aos tratamentos dos doentes mentais, um assunto considerado tabu nos anos 40.

O título deriva de uma prática antiga que faziam com os doentes mentais, que eram atirados em lugares que os perturbassem, chamados de "cova das serpentes". Essa prática, segundo diziam, faria de um insano uma pessoa normal. A personagem principal do filme comenta sobre isso numa das cenas finais.

Muitas cenas do filme foram gravadas no Camarillo State Mental Hospital, na California.

Uma versão de The Snake Pit foi realizada para o rádio em 1950, também com de Havilland no papel principal.

Olivia de Havilland considera este o seu melhor filme e também o que mais gostou de participar.

Abaixo, confira o trailer de ''A Cova da Serpente'':



sábado, 21 de maio de 2016

The Heiress - Tarde Demais, 1949

Tarde Demais, 1949


Como citei em uma postagem anterior, esse ano a magnífica Olivia de Havilland completará seu centenário, gozando de boa saúde e sendo louvada sempre pelos grandes fãs de seu trabalho. Bem, como eu sou uma grande fã, vou cumprir o que falei anteriormente: mais postagens sobre Olivia. 
Não vou fazer por ordem cronológica de sua carreira, mas sim pelos seus melhores filmes. Quando me refiro aos ''melhores filmes'', não me refiro à bilheteria, mas sim à qualidade da trama, da atuação e etc. 

E hoje é vez de ''The Heiress'' ganhar destaque aqui, sendo este um dos melhores filmes de Olivia e com uma atuação superior a tudo.


Sinopse:


Por volta de 1849/1850, Catherine Sloper (Olivia de Havilland), é uma jovem tímida e sem atrativos, filha do renomado doutor Sloper (Ralph Richardson), e herdeira de uma grande fortuna deixada por sua mãe, e futuramente herdeira de uma fortuna maior ainda por parte de seu pai.

Devido à sua timidez e a opressão de seu pai, Catherine nunca fora cortejada, tampouco alimenta esperanças de que alguém possa desposá-la. A relação de Catherine com seu pai nunca foi das melhores. Obcecado por sua falecida esposa, Austin tenta de todas as formas possíveis fazer com que Catherine se iguale à mãe, mas sem sucesso. Acontece que a garota é totalmente desprovida de atrativos, tanto físicos como intelectual. 

Mas, com a chegada de tia Lavínia (Miriam Hopkins) à cidade, surge a chance de Catherine ir à uma festa, e é lá que ela conhece Morris Townsend (Montgomery Clift), que começa a cortejá-la. Morris é um bonito rapaz, culto, elegante, mas sem um tostão, o que faz com que o doutor Sloper comece a suspeitar de que Morris não está interessado em Catherine, mas sim em sua fortuna.

Completamente apaixonada por Morris, Catherine, que nunca antes contestara o pai, decide se casar com Morris, porém, para pôr o suposto amor do rapaz à prova, Austin a leva consigo para uma longa viagem à Europa, a fim de que a filha, nesse meio tempo, se esqueça de Morris.

A viagem é inútil, Catherine continua apaixonada, e Morris, persistente. E, ao voltarem para Nova York, Morris e Catherine planejam fugir naquela mesma noite. Mas ao informar Morris de que seu pai a deserdará, caso se case com ele, o rapaz desiste da fuga e vai para a Califórnia, deixando Catherine esperando à noite toda. No dia seguinte, ao saber da notícia de que Morris fora  embora, Catherine sofre ao saber que seu pai tinha razão, que o rapaz estava apenas interessado em seu dinheiro.

Após o abandono de Morris, a relação de Catherine com o pai vai se degradando cada dia mais, numa constante troca de ofensas por ambas as partes.

Tempos depois, o doutor Sloper morre, deixando Catherine ainda mais rica, porém, ela já não é mais a mesma. 

De ingênua, romântica e tímida, ela se torna uma mulher fria e amargurada, vivendo sozinha em sua luxuosa casa na Washington Square, e gozando de sua fortuna.

Morris retorna à cidade, decidido a reconquistar Catherine. Agora, além do dinheiro, ele também está determinado a conquistar o amor dela, e é aí que Catherine vê a oportunidade perfeita para se vingar, arquitetando um cruel plano de vingança, e dando início a uma nova vida para si mesma.

Sobre o filme: 

Tarde Demais é um maravilhoso drama romântico, mas sua magnitude não se encontra apenas na história, mas sim nas atuações, sobretudo a de Olivia de Havilland, cuja sua capacidade interpretativa já havia sido posta à prova em outros filmes, mas que surpreende mais ainda neste. O modo doce e ingênuo, totalmente desprovida de glamour e elegância da Catherine do início do filme, já surpreende, e o público se surpreende ainda mais com a reviravolta da personagem: de ingênua e doce, para fria e amarga. E Olivia fez isso de uma forma inigualável, pois o público só a via como a doce e ingênua  - ela já havia provado o contrário antes em outros filmes, como A Cova da Serpente e Espelhos D'Alma -, mas Catherine é, sem a menor sombra de dúvidas, a personagem mais complexa de Olivia, o que rendeu à atriz vários prêmios, incluindo o seu segundo Oscar de Melhor Atriz e a aclamação do público.

Ainda sobre às atuações, Ralph Richardson também é um show à parte. A forma brilhante como interpretou o tirano doutor Austin Sloper, nos faz odiá-lo do começo ao fim, mas a magnitude de sua atuação nos deixa surpresos, ainda mais nas cenas com Olivia. A cada cena dos dois juntos, uma nova emoção. 

E Montgomery Clift, em início de carreira, também brilha como o interesseiro Morris, e brilha ainda mais nas cenas com Olivia e Miriam Hopkins, que se saiu ótima como a romântica tia Lavínia. 

Entretanto o ponto forte do filme não é o romance entre Morris e Catherine, mas sim a relação de Catherine com o pai. Austin idealizou tanto a falecida esposa, que tornou-se uma obsessão para si tornar Catherine igual a mãe. 
Mas vendo que isso é algo impossível, Austin passa a desprezar Catherine, oprimindo a garota e tornando-a inferior, indefesa e infeliz por não conseguir se igualar à sua finada mãe.
Em certa cena do filme, Austin deixa claro o seu desprezo pela filha, definindo-a como "um ser desprezível e insignificante". E mais tarde, quando finalmente revela à filha todo o seu desprezo, fica claro que ele, de fato, nunca amou sua filha. Para ele, ela era apenas a pessoa que herdaria sua fortuna, nada além disso.

E é a partir deste momento em que Catherine muda seu comportamento, passando a nutrir o mesmo sentimento por seu pai.

Obviamente que o abandono de Morris serviu para a brusca mudança de comportamento da protagonista, mas principalmente sua malfadada relação com o pai a deixou assim: fria, amarga e, de certa forma, cruel.
" Aprendi com grandes mestres", como ela mesma menciona, quando questionada sobre crueldade, deixa claro que ela se refere a Morris, mas a cima de tudo, a seu pai.

O filme é totalmente baseado no livro Washington Square, de Henry James e na peça The Heiress que Olivia de Havilland assistiu em Nova York, e convencida de que a peça daria um excelente filme, convenceu o diretor William Wyler a fazer com que a Paramount adquirisse os direitos da peça e produzissem o filme.

O filme foi um sucesso de crítica e bilheteria, arrecadando diversos prêmios.
E talvez, se não fosse pela inciativa de Olivia, The Heiress nunca teria chegado aos cinemas.

A direção competente de Wyler, a magnífica trilha de Aaron Copland e, obviamente, as atuações, fazem de Tarde Demais um clássico, uma obra-prima da década de 1940, que deve estar na lista de qualquer amante da sétima arte.

Abaixo, confira o trailer de The Heiress: