terça-feira, 26 de abril de 2016

Crepúsculo dos Deuses - Sunset Boulevard, 1950.

Sunset Boulevard, 1950. 


Seria difícil dizer que este clássico tão amado e aclamado pelos fãs de cinema não é um dos meus favoritos. Com um roteiro bem elaborado, direção impecável, trilha sonora esplêndida, e acima de tudo com atuações memoráveis e inigualáveis, a obra-prima de Billy Wilder torna-se melhor com o passar dos anos. 

O filme do gênero noir, começa do fim, levando o expectador a ficar mais e mais intrigado com a estória. Joe Gillis (brilhantemente interpretado por William Holden), um roteirista de filmes B, narra sua vida seis meses antes de ser assassinado - sim, curiosamente, todo o filme é contado a partir do ponto de vista do morto.  

Em busca de 200 dólares para pagar o documento de seu carro, a fim de resolver suas pendências com os ''tiras'', Joe encontra asilo numa antiga e luxuosa mansão em Hollywood, mais precisamente na famosa Sunset Blvd. Retiro de grandes artistas dos velhos tempos, Joe se esconde na velha mansão, que como descrita por ele, se parece com um enorme e velho elefante branco. Mas, para a surpresa de Joe, é lá que vive uma das maiores estrelas do cinema mudo, Norma Desmond (ARRASADORAMENTE interpretada pela magnífica Gloria Swanson), que fizera muito sucesso no passado, mas que agora, com o som e o technicolor, fora para sempre esquecida dos estúdios e do público.

Na ilusão de que pode voltar a brilhar - Há uma antológica cena no filme, em que questionada por Joe sobre seu magnetismo para  à indústria cinematográfica, Norma nos dá uma das mais celebres frases dos cinema: ''Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos''. -, Norma, junto com o seu fiel mordomo e maior fã, Max (Erich Von Stroheim), fazem com que Joe viva na mansão para trabalhar um ridículo roteiro de ''Salomé'', totalmente escrito por Norma, crendo que esta será a ''obra-prima'' que a levará de volta ao sucesso.

Durante esse período, Norma, já sozinha e esquecida, se apaixona por Joe. Mas o que era apenas para ser uma simples paixão, tornasse uma louca obsessão, resultando numa das tragédias passionais mais memoráveis do cinema.
 
Não é exagero dizer que Sunset Boulevard é uma das maiores obras cinematográficas já produzidas, tampouco dizer que a atuação de Gloria Swanson, uma belíssima atriz da década de 1920s que estava há oito anos afastada das telas é uma das melhores atuações que já se viu. 

O roteiro brilhantemente elaborado e a direção mais do que competente de Billy Wilder, nos leva a conhecer uma face sombria de Hollywood. Uma Hollywood hipócrita e desprezível, tanto com o público como para com seus antigos astros. 

Além disso, Sunset Blvd é um dos primeiros filmes a tratar sobre problemas psiquiátricos. Não focando exatamente no tema, mas sabemos, ao decorrer da fita, que Norma sofre de problemas mentais gravíssimos, problemas omitidos por Hollywood, problemas que, cedo ou tarde iriam causar-lhe grandes problemas.

A personagem de Swanson é completamente obcecada por si mesma. Incrédula com a ideia de que o sucesso e a juventude ficaram no passado, ela, com a ajuda de seu ex marido, ex empresário, amigo, e agora fiel mordomo e escudeiro Max, mantém a fantasia de que ela ainda é um sucesso, chegando até mesmo a lhe enviar flores e cartas com fotos para que ela mesma possa autografar. 
Em Joe ela se vê novamente jovem, no auge da fama, o que faz gerar essa paixão doentia por ele. 

Anos mais tarde tivemos ''O que Terá Acontecido a Baby Jane?'', que é bastante semelhante a Sunset Blvd, tendo também uma protagonista obcecada por si mesma e crente que voltará ao sucesso.

Porém, ao contrário de Baby Jane, não há um mistério que justifique a doença mental da personagem. O motivo da doença mental de Norma é simples: ela não sabe lidar com o envelhecimento, menos ainda com o esquecimento.

O filme aborda a falta de consideração com esses grandes astros, a decadência (na minha opinião, o cinema melhorou muito, mas muiiiito mesmo depois dos anos 20, mas não na da personagem) dos filmes e, de certa forma, a alienação do público no novo, despertando o desinteresse no antigo, naquilo que foi essencial para a construção do presente e do futuro.

Buster Keaton e dentre outros antigos atores, assim como o maravilhoso diretor Cecil B. DeMille fazem participações no longa. Norma, em determinada cena, se caracteriza como Chaplin, novamente homenageando a saudosa década de 1920 e seus filmes em preto e branco, mudos, mas que tinham algo a mais a oferecer. 

William Holden se saiu maravilhoso como o gigolô Joe, sendo indicado ao Oscar de Melhor Ator, assim como Max von Stroheim no papel do fiel Max e Nancy Olson no papel da interessada e ambiciosa analista de filmes que sonha em ser uma famosa escritora.

A direção estupenda dá ao público uma visão mais ampla dos acontecimentos, assim como a maravilhosa trilha sonora que nos leva ao ápice do suspense.

Sunset Boulevard é uma das maiores obras-primas do cinema. Um filme que merece ser visto e revisto muitas vezes por todos os amantes da sétima arte.

Abaixo, confira o trailer de Sunset Boulevard: